ISTOÉ - Comportamento
| N° Edição: 2239
| 05.Out.12 - 21:00
| Atualizado em 07.Out.12 - 00:01
A fórmula dos colégios militares
Com desempenho acadêmico superior ao da
maioria das escolas públicas brasileiras, instituições administradas
pelo Exército unem professores capacitados, boa infraestrutura e
disciplina, mas só para uma elite
Paula Rocha e Wilson Aquino
ROTINA
“Hino Nacional” e continência no Colégio Militar do Rio de
Janeiro, onde há atividades extracurriculares, como equitação
Sexta-feira, dia de formatura geral no Colégio Militar do Rio de
Janeiro. Aproveitando a presença dos cerca de dois mil alunos e alunas
devidamente alinhados como soldados na praça Thomaz Coelho, o
subcomandante do colégio, coronel Muniz, toma o microfone e fala grosso:
“A brincadeira de Nescau está proibida.” O militar faz referência a um
tradicional e violento trote aplicado pelos alunos veteranos sobre os
novatos – um grupo se aproxima da vítima cantando uma divertida música
infantil e, de repente, cai de tapas e murros sobre a cabeça e costas do
alvo. A bronca geral do subcomandante tem como objetivo restabelecer a
disciplina, um dos principais pilares das escolas militares brasileiras.
Com uma filosofia de ensino baseada na doutrina do Exército
brasileiro, o Colégio Militar do Rio foi o décimo melhor colocado do
Estado, entre as escolas do sexto ao nono anos, no Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2011, do Ministério da
Educação. A escola obteve média de 6,4, abaixo da meta estipulada para o
colégio, de 6,6, porém bem acima da média nacional, que bateu em 4,1.
Dentre as 30 escolas de sexto a nono ano com as melhores notas no Ideb
2011, dez são colégios militares. Essas instituições são uma elite do
ensino público no País – elas não cobram mensalidade, mas uma taxa
simbólica de quem pode pagar – destinada preferencialmente aos filhos de
servidores do Exército. A realidade desses colégios em nada lembra as
escolas sem estrutura e com professores mal remunerados a que a maioria
dos estudantes brasileiros está submetida. “O bom desempenho é resultado
da união de planejamento pedagógico, boa estrutura de apoio ao processo
de ensino e aprendizagem, corpo docente capacitado e disciplina”,
acredita o coronel Mansur, diretor do Colégio Militar de Salvador. Em
sexto lugar na classificação nacional do Ideb, a instituição baiana
possui 821 alunos, 98% filhos de militares.
Hortência Brito, 15 anos, de Brasília, acredita na qualidade do ensino
Do ponto de vista estrutural, esses colégios estão, de fato, bem
acima das demais escolas da rede de ensino público do País. Em comum, as
12 instituições militares possuem instalações variadas e em ótimo
estado de conservação, que incluem ginásios, piscinas semiolímpicas,
quadras de tênis, laboratórios de química, física, biologia e
informática, além de outros espaços de convivência. Toda essa
infraestrutura permite que os alunos permaneçam na escola fora do
horário regular, realizando atividades extracurriculares, outro
diferencial. “Nós estimulamos a participação dos alunos em atividades
que vão além da sala de aula”, diz o coronel Heimo, diretor do Colégio
Militar de Brasília, que recebeu nota 6,7 no Ideb 2011, a melhor
classificação entre as escolas públicas do Distrito Federal. “Nossos
alunos podem optar por realizar atividades como equitação, coral, dança,
teatro e até robótica.” Atualmente, três mil estudantes estão
matriculados no Colégio Militar de Brasília. Destes, apenas 550 são
filhos de civis.
VALORES
Disciplina é essencial para a estudante Cláudia Ferreira,
18 anos (no centro), do Colégio Militar de Salvador
Outro fator considerado decisivo para o bom desempenho acadêmico dos
alunos é a capacitação do corpo docente. No Colégio Militar de Salvador,
por exemplo, 15% dos professores são doutores, enquanto 25% possuem
mestrado. “E mais de 90% têm ao menos um tipo de especialização”, diz o
coronel Mansur. “Além disso, trabalhamos em regime de dedicação
exclusiva, e a carga horária dentro da sala de aula não é tão grande, o
que nos possibilita preparar melhor o conteúdo que será apresentado”,
diz a capitã Risalva Bernardino, professora de literatura e língua
portuguesa do Colégio Militar de Brasília. A remuneração dos professores
também é atrativa. Os docentes militares têm vencimentos
correspondentes aos respectivos postos. Já os civis recebem de acordo
com a progressão funcional e os títulos que possuem. Os salários variam
entre R$ 4 mil e R$ 5 mil, valores que podem ser equiparados à
remuneração de professores dos institutos federais e de alguns colégios
particulares. É bem acima da média salarial dos docentes de ensino
fundamental da rede pública, de R$ 1,8 mil.
A principal diferença entre os colégios militares e as escolas civis, no
entanto, é a questão da disciplina. As regras dentro dessas
instituições são rígidas. Apesar de a aula começar às 7h, o aluno que
atravessa o portão de entrada às 6h30 é considerado atrasado. Se o
uniforme não estiver impecável (há funcionários designados
exclusivamente para observar isso), pode não ter acesso à sala de aula.
Fica de castigo no interior do colégio até o fim do turno. Há normas
também sobre a aparência. O corte de cabelo masculino é feito com
máquina 2, e refeito de 15 em 15 dias. Não é permitido barba, bigode ou
cavanhaque, brinco, piercing nem óculos escuros. Guarda-chuva, somente
na cor preta. Os cabelos femininos podem ficar soltos, contanto que não
ultrapassem a altura da gola do uniforme. Se médio ou longo, deve ser
preso. Mechas coloridas são proibidas. As unhas devem ser incolores ou
pintadas apenas nas cores branca e rosa-clara. Ao cruzarem com um
professor, diretor ou monitor, os alunos devem prestar continência.
Namorar, beijar, andar abraçado ou de mãos dadas é considerado
transgressão disciplinar e os pais são chamados.
Com tantas normas, alguns alunos reclamam. “É muito rigor e sermão.
Aqui é bem diferente dos outros colégios. Eu esperava que fosse mais
fácil, só estando aqui dentro para ver”, desabafa um aluno do sexto ano
do Colégio Militar do Rio de Janeiro, que não quis se identificar.
Outros estudantes, porém, afirmam gostar dos valores aprendidos. “A
disciplina é necessária para o aprendizado”, diz Cláudia Mattke
Ferreira, 18 anos, aluna do terceiro ano do ensino médio do Colégio
Militar de Salvador e filha de civis. Opinião compartilhada pela também
estudante Hortência Oliveira Brito, 15 anos, aluna do primeiro ano do
ensino médio do Colégio Militar de Brasília. “Tem esse aspecto de
rigidez, sim, mas ao mesmo tempo o ensino tem muita qualidade.”
Na opinião do especialista Luiz Prazeres, consultor em processos de
avaliação educacional e professor do Centro Pedagógico da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), a disciplina dos colégios militares faz
diferença, mas não é o único fator determinante para o sucesso dos
estudantes egressos desse sistema de ensino. “Os alunos desses colégios
representam uma elite intelectual. A prova para admissão nessas
instituições é muito rigorosa, e acaba selecionando apenas os melhores”,
diz Prazeres. “São escolas públicas, mas não inclusivas. São
estabelecimentos de ensino fechados, acessíveis apenas a privilegiados”,
completa.
Fotos: Orestes Locatel e Adriano Machado/ag. istoé
Foto: Anderson Christian
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ResponderExcluirParabéns aos "Colégios Militares" . . . .
Há Esperança ... quando podemos ver que
ainda existem, alguns, órgãos públicos
que respeitam o POVO BRASILEIRO e o BRASIL.
Um Grande Abraço.
J.Firminio .
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Obrigado pelo comentário.
ExcluirAdm CVO